terça-feira, 18 de setembro de 2007

Clara

Clara cedo descobriu que era especial. Era ainda uma pequena criança quando se apercebeu do dom único que possuía: Clara criava Mundos.

Ao contrário dos seus amigos, ao contrário de todos que a rodeavam, Clara conseguia imaginar e materializar realidades, conseguia criar pessoas, conseguia erguer civilizações e tornar reais sentimentos e sentidos vindos dos recônditos cantos da sua pitoresca imaginação. Consigo, todos os dias, conviviam as mais mirabolantes criaturas e com um simples gesto Clara conseguia transportar-se para bem longe, para sítios onde o comum dos mortais jamais sonharia estar.

image Para Clara não existiam regras. Leis também não as haviam, não no sentido comummente dado ao termo, uma vez que as podia quebrar a seu bel-prazer. Até a Natureza, por outros tida como poderosa e inflexível, era nas suas mãos tão domável como um pobre cão esfomeado. Clara tinha em seu poder universos que coabitavam sem interagir com o Mundo exterior – o Mundo em que vivia e que os outros julgavam ser o único. Mas a natureza destes Mundos é incompatível, pelo que o simples facto de um existir invalidava logicamente a existência de outros que não se inserissem na mesma Ordem das coisas. Mas é de Clara que falamos. E para Clara impossibilidades são como grãos de areia numa praia – tão numerosos quanto desprezáveis pela pequenez que representam. O que é, afinal, um grão de areia para uma criadora de Mundos?

Os Mundos de Clara são tão fantásticos que cada paisagem, cada pedaço de terra ou céu que os enche e dá vida é tão diferente para quem os vê quanto os seus olhos dos de outros. Melhor dizendo, seriam diferentes, se Clara os desse a ver. Mal sonham os amigos, mal sonha o seu Mundo que tal dom existe, que alguém cria, que não transforma simplesmente, como desde sempre foram ensinados, como disse alguém que não conhecia, certamente, Clara. Por vezes perseguida por exércitos, outras conversando com Reis de terras distantes e exóticas, basta-lhe um gesto brusco e seco para, quando alguém aparece, fazer com que se tornem transparentes, com a luz a trespassá-los como ao ar, como ao nada. E, no entanto, estão sempre presentes, por vezes na imaginação de Clara, outras tantas também existindo de facto, escondidos apenas dos olhos de quem outros Mundos desconhece.

Por tudo isto, é impossível não olhar para Clara com admiração.

Afinal de contas, Clara escreve…

 

(Nota: Um texto escrito em Março, guardado na gaveta. Não resisti em pô-lo aqui...)

1 comentário:

Anónimo disse...

hoje sinto-me uma Clara =))
e apetece-me criar =DDD







texto 5* ... para não variar -.-"


xD beijo *