sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Inverno

Sentado naquele banco, naquele jardim, já com menos de meio cigarro na mão, chorava. O seu cabelo castanho escuro sobressaía no cenário de Inverno que o rodeava – neve no chão até onde a vista alcançava; a pequena fonte no centro do terreno a jorrar água que por pouco não havia congelado. Essa água, aliás, o único som que se ouvia naquela manhã fria onde o Sol não figurava na paisagem.

O fumo subia, lenta, lentamente da sua boca, percorrendo o ar até desvanecer. O homem via-o pairar à sua frente, bloqueando as serras do horizonte como uma neblina cerrada. O cheiro do tabaco deixava-o nauseado, mas isso pouco lhe importava. Ajudava-o a distanciar-se. Ajudava-o a relaxar…

Distância. Na verdade não precisava de mais distância que a que tinha. Como uma pequena ilha num infindável oceano, não tinha ninguém. E por muitos amigos que tivesse, por muitos que se importassem com ele, sentia-se na mesma só, tão ou mais só do que antes. Talvez porque quisesse. Talvez imageporque, na verdade, ninguém o compreendia ou queria compreender. Sabia-se único – não de uma forma positiva, mas ainda assim, único. Sabia que ninguém via o mundo dele tão bem como sabia que não queria ver aquele mundo dos outros. Detestava as suas perspectivas. Desprezava tantos por as terem… Viam o mundo de olhos fechados. Viam pelo que ouviam da boca dos outros. “Ignorantes…”, dizia para os seus botões.

Gostava de se sentar ali naquelas manhãs gélidas e deixar as lágrimas escorrerem rosto abaixo. Gostava de estar triste. Masoquismo? Quem sabe. Mas para ele o sentimento de tristeza era tão libertador, tão vivo como aquela alegria que nos arranca as maiores gargalhadas, ou como aquele amor que nos põe o pulso a dar horas. Amor que não tinha. Amor que não queria e não podia ter. Por si, ficaria só, apagando todas as outras pessoas, mesmo que mais só do que estava fosse muito provavelmente impossível.

Acabava-se o cigarro. Com um pequeno gesto lançou-o para longe, vendo-o perder a vida em apenas um instante. Encostado para trás, olhos a apontar para o céu repleto de feias e ameaçadoras nuvens cinzentas, deixou-se estar. Perdido. Sozinho. No meio da neve, no meio do branco; como no Céu… Sentia-se estranhamente acolhido, como não era com as pessoas que tantas vezes o rodeavam. Mais só mas mais vivo.

image Tantos sentimentos que não queria ter. Perguntava-se se alguma vez já tinha sido amado. Será que lhe haviam dito a verdade? Muitas vezes duvidava. Outras, menos frequentemente, sentia um certo reconforto em palavras antigas que há muito julgava esquecidas nos recantos das suas memórias. Mas sobretudo cauteloso, controlava o que sentia, açaimava o coração para não sofrer desilusões como tantas até então. Cada uma mais pesada que a outra. Cada uma mais marcante que a anterior. Cicatrizes que se acumulavam atabalhoadamente em si e que não conseguia disfarçar, muito menos ignorar. Por isso se escondia dos outros, por isso se afastava, fugindo para ali. Talvez o vento ouvisse melhor que as pessoas. Talvez a neve curasse mais rápido o que tantas vezes tentara reparar, sem sucesso.

O barulho da água continuava, vindo da fonte. O ar frio percorria-lhe os pulmões, revigorando-o. A cada lufada sentia-se ironicamente mais frio por dentro… “Deixem-me aqui”, dizia para si mesmo, “Deixem-me ser eu”.

4 comentários:

Anónimo disse...

ohhhhh padrinhooo =DD criaste uma coisa destas e acho mtttt bem !! tu sabes como eu ADOROOO os teus textos, não sabes ???

hoje estou pura e simplesmente de rastos e vou dormir, mas amanhaa prometo que leio e comento como deve de ser =DD

«3 eu gosto do meu padrinho. *

Anónimo disse...

ahhhhh .. ja me eskecia de uma coisinhaaa ! x))



PSICOLOGIAAAAAAAAAAAAAA ! =DDD
UCP *

Anónimo disse...

ainda gostei mais deste ! o texto 'tá fantástico e as imagens estão mesmo bem escolhidas (;

adorei, como sempre =D

beijinhooo *

Anónimo disse...

É FPCEUUUUUUUUUUUUUUUUUUUP =D

É A MELHOOOOOOR DA ACADEMIA !
É A QUE TEM MAIS ENERGIAAAA !
SOMOS NÓS PSI-CO-LO-GIA !