segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Olhos nos olhos

Deitados na cama, a rapariga dos olhos rasgados e o rapaz que sonhava contemplavam-se. As mãos dadas, com força à qual nem o maior dos números fazia justiça, contemplavam-se, enamorados.

Olhavam olhos nos olhos, como que a espreitar para a alma de cada um. O rapaz que sonhava, admirado, nunca sonhara ser possível os olhos de duas pessoas verem o mesmo… Ambos sentiam o mesmo: perfeição. Se o mundo acabasse ali – e bem podia acabar! –, estariam felizes como nunca antes. Porque estavam juntos. Porque os seus olhos de cores diferentes viam o mesmo mundo.

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- Amanhã, também isto será apenas uma memória… – desabafou, por fim, a rapariga dos olhos rasgados, tentando disfarçar o sorriso triste que se camuflava no rosto. Inundada de felicidade, o coração a batucar forte e com ritmo inconstante – como que a queixar-se que aquele peito, aquele onde batia, não conseguia comportar um sentimento tão colossal – sabia contudo que a perfeição era assim mesmo, efémera.

O rapaz que sonhava tentou desmentir, mas faltou-lhe a vontade para dizer fosse o que fosse. Pararam os dois, fitando-se. Como era bom olhar nos olhos dela. Como era bom olhar nos olhos dele…

Foi então, subitamente, como um relâmpago, não mais do que um momento, que tudo parou: o quarto à sua volta pareceu ter sido levado para longe; lá fora, os pássaros pararam de cantar e ficaram à escuta, vendo voar quem não precisava de asas; a Terra, apercebendo-se, parou de rodar, atenta; um cometa esqueceu-se de cair!; o Sol, gigante, pareceu eclipsar-se com a doçura das palavras, e corou ao calor e ternura dos dois meninos – tudo para escutar a coisa mais importante do mundo:

“Amo-te…”

1 comentário:

Anónimo disse...

<3-te